Empowerment do cidadão em saúde: qual a percepção do cidadão? Qual o papel do profissional de saúde?

Este trabalho pretende estudar o problema do empoderamento do cidadão, em saúde, em duas vertentes: na vertente dos profissionais de saúde e sob o ponto de vista dos utentes.

O instrumento de colheita de dados que elegemos consistiu na utilização de dois questionários: um para os utentes e outro, diferente, para os profissionais de saúde.

Conseguimos provar que é real a existência de profissionais de saúde empoderadores, apesar de algumas resistências, e que essa atitude empoderadora promove cidadãos empoderados.

O problema que pretendemos estudar está relacionado com o empoderamento do cidadão, em saúde. Esperamos através deste estudo analisar, nos serviços que prestam cuidados a crianças no Hospital Ortopédico Sant'Iago do Outão, o factor empoderamento, em duas vertentes: na vertente dos profissionais de saúde (até que ponto é que os profissionais de saúde têm uma atitude empoderadora e qual o seu papel no que respeita a esta temática) e sob o ponto de vista dos utentes (será que os utentes têm interesse em se envolverem no seu próprio plano de saúde, qual a atitude adoptada pelos utentes, no que respeita ao empoderamento?).

Neste trabalho podemos, então, realçar dois objectivos principais: avaliar o papel do profissional de saúde no "empowerment" do cidadão, em saúde; avaliar a percepção que os cidadãos têm acerca do "empowerment" em saúde, para assim contribuir para a operacionalização do conceito de empowerment" do cidadão, em saúde.

O instrumento de colheita de dados que elegemos consistiu na utilização de dois questionários: um para os utentes e outro, diferente, para os profissionais de saúde.

Estes questionários resultaram da adaptação de questionários já existentes, testados e validados, presentes em dois estudos que tivemos a oportunidade de conhecer através da pesquisa bibliográfica: "Observational study of effect of patient centredness and positive approach on outcomes of general practice consultations" (LITTLE e tal, 2001) e "Validation of a desire for information scale" (DUGGAN e tal, 2002).

Para a elaboração dos questionários contámos, ainda, com o apoio de dois artigos que desenvolveram o uso de duas escalas (escala OPTION e escala de Degner): "Shared decision making: developing the OPTION scale for measuring patient involvement" (ELWYN e tal, 2003) e "Variability in patient preferences for participating in medical decision making: implication for the use of decision suppot tools" (ROBINSON e THOMSON, 2001).

Neste estudo participaram dois grupos distintos: o grupo de profissionais de saúde: enfermeiros, médicos e fisioterapeutas a desempenhar funções no Hospital Ortopédico Sant'Iago do Outão, em serviços de Ortopedia Infantil (consulta externa, medicina física e de reabilitação e internamento de ortopedia infantil; e o grupo de utentes constituído pelos acompanhantes de crianças (idade inferior a 15 anos) internadas no serviço de ortopedia infantil, durante o tempo do estudo.

De acordo com os resultados do estudo, os itens incluídos nos questionários apresentaram adequados índices de consistência interna (a= 0,8142, para os profissionais de saúde e a=0,7989, para os utentes).

No que respeita aos profissionais de saúde, verificamos que estes apresentam uma atitude empoderadora alta (média = 57,8), já que o valor máximo possível de obter era de 69.

Ao relacionarmos a relação pessoal com o positivismo e clareza, obtivemos uma correlação positiva (R=0,546) e significativa (p=0,05) o que evidencia o facto de que existindo um diálogo claro e sem obstáculos, a relação entre utentes e profissionais de saúde é melhorada.

A correlação entra a comunicação e a relação pessoal é, também, positiva e significativa (R= 0,402), indicando que quando uma aumenta, também a outra aumenta, isto é, uma boa comunicação leva à melhoria da relação pessoal entre utentes e profissionais de saúde, o que se traduz no terreno apropriado para se constituir uma conversa empoderadora, entre dois indivíduos empoderados.

No que respeita aos resultados obtidos com os questionários entregues aos utentes, quando correlacionámos as variáveis grau de empoderamento com as habilitações literárias dos inquiridos, resultou um coeficiente de correlação de 0,408, associado a um nível de significância de 0,025 (menor que alfa, para alfa = 0,05ª), portanto, estatisticamente significativo. Assim, tal como se encontra descrito na teoria, verificámos que utentes com mais habilitações literárias apresentam maior grau de empoderamento.

Ao correlacionarmos o grau de empoderamento dos utentes com o local onde as crianças passam a maior parte do seu dia, verificamos que existe uma correlação negativa significativa (R= - 0,455, p=0,012), ou seja, o grau de empoderamento é maior quando o local onde as crianças passam a maior parte do seu dia é a casa.

Quando realizámos a análise da correlação entre o grau de empoderamento dos utentes e a atitude empoderadora dos profissionais, verificamos que nos é fornecido um valor de correlação de 0,640, tendo associado um valor de significância menor que alfa, estatisticamente significativo (p=0,000), o que nos diz que o aumento de uma variável pressupõe o aumento da outra, o que é bastante importante. De facto, com estes resultados não restam dúvidas de que profissionais de saúde empoderadores proporcionam utentes empoderados, o que é um resultado felizmente esperado e confirmado.

Com este estudo, foi-nos possível confirmar alguns factos já investigados, como o facto de profissionais de saúde do género feminino adoptarem uma atitude mais empoderadora em relação aos seus colegas do género masculino, além de ter sido possível, igualmente, constatar a existência de correlação positiva e significativa entre as habilitações literárias dos utentes e o seu grau de empoderamento.

Porém, com este estudo evidenciaram-se outros aspectos que poderão ser sujeitos a novas investigações. Destes aspectos, salientamos o facto das diferenças existentes entre os grupos profissionais e a atitude empoderadora, bem como a influência do facto dos pais passarem menos tempo com as crianças e a sua relação com o empoderamento.

Gostaríamos, ainda, de sublinhar a maior surpresa que este estudo nos proporcionou. De facto, foi com enorme prazer que constatámos que profissionais de saúde não são sinónimo de fraca atitude empoderadora. Com este estudo, conseguimos provar que é real a existência de profissionais de saúde empoderadores, apesar de algumas resistências, e que essa atitude empoderadora promove cidadãos empoderados.

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